O Que é Filosofia? Para Que Serve?
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Podemos
definir a filosofia como a ciência das causas primeiras, para resolver o
problema da vida.
A filosofia
é ciência, conhecimento das coisas pelas causas, pelas razões: a saber,
como ciência, nos diz que a coisa conhecida não só é assim, como nos aparece,
mas tem de ser necessariamente assim. E distingue-se do saber vulgar, da
opinião, que nos diz que as coisas conhecidas estão de uma determinada maneira,
mas não dá a razão pela qual estão necessariamente assim. Daí o saber vulgar, a
opinião, não ser estável e segura, mesmo quando verdadeira. A filosofia,
portanto, ainda que coincida, materialmente, com o assim chamado bom senso,
senso comum – que pertence à opinião – dele formal e essencialmente se
diferencia pela sua certeza absoluta.
A filosofia é ciência pelas causas primeiras,
porque é metafísica, quer dizer, transcende a experiência e não para até
esgotar o interrogativo causal e resolver plenamente o enigma do universo. É
ela, portanto, a ciência da essência profunda das coisas e não dos fenômenos,
do todo e não das partes: precisamente porque as causas primeiras explicam o
todo. Destarte se distingue de todo saber científico, que não atinge as causas
primeiras, mas se restringe às causas segundas, isto é, se distingue de toda
ciência natural particular.
A filosofia é a ciência pelas causas primeiras, para
resolver o problema da vida. Isto quer dizer que a solução do problema da
vida é a finalidade última da filosofia, mas tal solução é unicamente possível
através de uma metafísica. A filosofia é sumamente humana, prática; mas, ao
mesmo tempo, sumamente especulativa, teorética. O problema da vida não tem
solução a não ser através de um sistema da realidade.
A filosofia, se representa a unificação máxima do
saber e da realidade, divide-se, ao mesmo tempo, em algumas partes
fundamentais. Antes de construir uma metafísica, é mister demonstrar a
capacidade da razão humana para tamanho empreendimento (gnosiologia); e
da metafísica decorre, necessariamente, uma moral indicando ao homem a
sua ação, o seu dever, conforme à realidade, à razão.
Como é preconceito comum que a filosofia seja um
saber abstrato, afastado da realidade e da vida, é também opinião vulgar que a
metafísica seja fruto de uma espécie de intuição mística, uma construção pelas
idéias inatas, uma dedução lógica dessas, um roupão transcendente que se impõe
à realidade. Na verdade, porém, como é insubsistente o primeiro preconceito, é
falsa também a segunda opinião, pois a metafísica constrói-se começando pela
experiência, do mesmo modo que a filosofia é a mais profunda penetração da
experiência. Ela – em seu fundamento, em seu ponto de partida –, é indutiva
como as demais ciências e como todo saber humano em geral, ainda mesmo de modo
diverso e com diferente ponto de chegada. E, por certo, é dedutiva em seu
desenvolvimento; mas são também dedutivas todas as ciências em sua
sistematização.
A filosofia é, portanto, uma construção – a mais
alta e sólida construção - da razão humana, que parte do terreno firme da
experiência para justificá-la. Em abstrato e substancialmente, poderia a
filosofia ser realizada pela (sã e eficiente) razão humana do indivíduo, posta
em frente ao enigma do mundo; entretanto, em concreto e plenamente, o sistema
da filosofia é realizado aos poucos, através do gradual progresso da
humanidade, mediante a história da filosofia – como acontece a respeito
de todos os valores humanos.
© Texto Produzido Por Rosana Madjarof - 11/06/2011
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